domingo, 18 de janeiro de 2009

Escritores da Liberdade

Acredito que é necessário haver paixão em tudo o que se faz. E que eu penso assim vocês já sabem. Acabo de assistir ao filme "Escritores da Liberdade". Muitas pessoas já tinham me recomendado este filme, mas só tive oportunidade de assisti-lo hoje. Numa tarde em que eu resolvi ficar em casa, sem fazer nada.

Pra quem não conhece, é a história de uma professora que começa a lecionar em uma escola "barra pesada" dos EUA e que resolve mudar a vida de seus alunos através de suas aulas. Meio clichê, eu sei. Existem vários filmes com essa temática, eu sei disso também. Mas este, como alguns outros, me tocou por se tratar de uma história verídica. Gosto dessas histórias, servem para mim como alerta e como inspiração.

A professora era louca, surtada. A mulher trabalhava em três empregos pra conseguir grana pra comprar livros e bancar os passeios com a turma, já que a escola não disponibilizava dinheiro para alunos considerados "incapazes". E o que a levava a isso ? Paixão. Paixão pelo que fazia. Lembrei-me dos meus milhões de casos de sala de aula. Chorei.

Esta semana eu conversava com um aluno do segundo ano, pelo msn, e no final da conversa, ele me disse assim: "Sabe por que eu gosto de ti ? Porque tu te importas comigo." E neste dia eu estava mal, triste. E quando eu li essa frase, pensei: "meu Deus, vale a pena. Isso sim vale a pena." E agradeci a Deus por ter a oportunidade de vivenciar essas coisas. Respondi "Claro que me importo! Gosto muito de ti!" Mas ele nem sabe o quanto me fez bem...

Sei que é chavão, é clichê, é tudo que você quiser. Mas existem coisas que não podem ser pagas. Existem pessoas que são dádivas. E existem ainda os dons. Mas vendo o filme, fiquei pensando em muitas situações que eu já vivi... lembrei-me daquele aluno que me disse "Prof, depois da nossa conversa, estou há duas semanas sem fumar". Lembrei daquele outro que apareceu com um caderninho embaixo do braço numa aula que nem era dele e disse "Prof, você pode me ensinar a escrever ?" - detalhe, ele estava na quinta série. Lembrei da menina que veio me contar da gravidez precoce, da outra que veio falar que queria ir ao ginecologista mas tinha medo da mãe, do outro que me disse que não queria mais estudar porque era burro, e lembrei de um monte de rostinhos... de vários tipos e tamanhos e com tantas histórias de vida... Mas lembrei também daquela turma que me disse quando entrei na sala: "vamos ter aula de leitura hoje de novo ??" Felizes porque até então, eles nunca tinham tido uma aula de leitura, lembrei do menino que veio com um livrinho nas mãos "Professora, peguei na biblioteca, você pode ler comigo ?" , lembrei de uma ligação que recebi nas minhas férias, do outro lado era uma vozinha tímida: "Professora Elaine, obrigada por ter me ajudado. Passei de ano" (aula particular), lembrei da turma que me olhou com lágrimas nos olhos quando eu disse que estava indo embora "Professora, fica com a gente, por favor."

Sei que para muitos eu sou apenas uma professora chata de português que aparece na sala e pede as coisas mais insuportáveis do mundo, mas sei também que para alguns, eu não sou (ou fui) apenas isso. Outro texto sobre alunos ? Não... esse é um texto sobre ensinamentos. Sei também que para alguns professores sou uma louca que não devo ter o que fazer quando enfio 30 crianças dentro de um ônibus coletivo para levá-los ao teatro por minha conta e risco. E tem também aqueles que me acham uma louca que trabalha por diversão apenas... Mal sabem que trabalho por paixão e por crença.

Acredito numa educação melhor, em pessoas melhores capazes de atitudes melhores. Cometo um monte de erros... eu sei disso e admito. Sei que ainda não faço nem um terço do que eu deveria fazer. Mas eu juro que tento. Tento mostrar o quanto vocês são bons e o quanto eu acredito em vocês. E eu juro, o dia que eu deixar de acreditar nos meus alunos, eu troco de profissão. Como me manter em algo que não acredito ? E oro todos os dias para que essa chama continue para sempre, ou pelo menos que dure enquanto eu estiver em sala de aula.

Penso na educação como algo muito além do quadro e giz. Muito além mesmo. É muito mais do que verbos e advérbios e isso eu já falei no outro texto, por isso não vou repetir. Quero educação humanitária também.

Bom, já me estendi demasiadamente. Espero ter passado a mensagem certa. Vejam o filme, é instigador. E acreditem nas pessoas... elas às vezes podem nos surpreender para o bem também.

3 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Elaine, que lindo seu texto, as usual! Está irretocável... Me emocionei, pode ter certeza. Também assisti o filme e tive vontade imediata de mudar o mundo através da ministração das minhas aulas. Ele é instigante p todo e qualquer expectador, independente de lidar com a educação. Essa nossa tarefa de professor vai muito mais além das salas de aula e esse filme ilustra brilhantemente essa idéia.
Como diz Rubem Alves: "A tarefa do professor é a mesma da cozinheira: antes de dar a faca e queijo ao aluno, provocar a fome..."
Sou fã dos seus textos porque eles têm "soul"
Beijos

Anônimo disse...

alguns clichês merecem ser mantidos na história do homem.