sábado, 13 de junho de 2015

Desesperança

Eu sei. Você também sabe. Eu já me apaixonei muitas, inúmeras,incontáveis vezes. Mas em todas as vezes, depois de cada término, eu sempre estava lá: pronta pra outra. Mas dessa vez não. Dessa vez, algo mudou aqui dentro.

O meu último relacionamento durou pouco, mas, estranhamente, foi devastador. Ele destruiu algo dentro de mim. E eu que sempre achei tão legal se apaixonar, hoje tenho medo. Mais do que medo, tenho distanciamento, desconhecimento, impossibilidade. Enfim, depois de 35 anos de vida, eu entendi o que as pessoas machucadas diziam quando afirmavam não quererem mais se relacionar com ninguém. Hoje eu sei o que isso significa. A duras penas, mas sei. 

Ele, o relacionamento ou o rapaz, tanto faz, quebrou algo tão profundamente aqui dentro que muitas vezes eu não me reconheço mais. Eu sei, você vai pensar: é sempre assim. Não, não é. Essa ruptura aconteceu outras vezes, eu admito, mas eu sofria e daqui a pouco estava pronta pra outra. Chorava três meses, lambia as feridas e daqui a pouco: uhul, vamos lá outra vez! No máximo, eu chorava as feridas nos braços de outro. Ou outros. Mas não dessa vez. Estou no luto há mais de um ano. Não tenho vontade de me apaixonar de novo. Não tenho coragem, melhor dizendo. Vontade/coragem/disposição. Vazio.

Ele me fez pirar. Quis morrer, tive que fazer terapia e tomar remédio tarja-preta. Virei um zumbi. Larguei tudo e todos. Definhei em cima de uma cama e depois engordei como nunca havia engordado. Perdi o controle de mim. Depois, passada essa primeira fase, o primeiro ano de desgaste emocional profundo, começou a segunda etapa: o medo, o susto, o desencanto, a quebra, o não-reconhecimento. Hoje, quero distância de sentimentos. É  vazio, é oco. Eu olho para ele e penso: o que você fez comigo, seu desgraçado? 

Eu sempre fui muito passional. Sempre acreditei no amor e, principalmente, em relacionamentos por/com amor. Mas hoje não mais. Pela primeira vez na vida, não estou apaixonada, não quero estar e nem penso na possibilidade de. E confesso que só de pensar nessas coisas, meu coração gela. Definitivamente, algo mudou. Não, não é como antes. Nunca foi assim. E acredite, isso é assustador. O silêncio aqui dentro é assustador. Ensurdecedor, 

Esse não é um texto reflexivo. É só um desabafo, só um bota-fora, um vômito pra ver se isso sai de mim... Nunca foi tão doído e ao mesmo tempo nunca foi tão dormente. Sem dor, sem sentimento, sem vida. Frio. 

1 ano, 2 anos. Chega. Não quero mais. 

domingo, 17 de maio de 2015

Texto para maiores II

Não sei.
Gostaria de saber e/ou de entender qual o verdadeiro mistério que envolve as relações dos seres humanos. Às vezes penso que seria mais fácil ser um cachorro ou qualquer outro animal "irracional"...

Antes eu pensava que todo mundo queria alguém. Que todo mundo gostaria de ter alguém para dividir a vida e tals. Mas hoje em dia me pergunto se realmente todo mundo quer isso... Em uma era de tantas relações meteóricas, questiono-me se ainda cabe querer alguém para vida inteira. Ou pelo menos, para parte dela.

Tenho vontade de abrir o verbo e dizer: "ei, é o seguinte, procuro alguém para estar comigo. Alguém para quem eu possa ligar e mandar msgs a hora que eu quiser e perguntar coisas idiotas que eu gosto de perguntar, coisas do tipo: "o que você almoçou?", "onde você está?", qual filme você vai ver hoje à noite?", "você está com ou sem barba hoje?", "qual camiseta você está usando?". Não pergunto essas coisas porque quero controlar ninguém, mas simplesmente curiosidade, por querer saber da vida do outro, uma forma de partilha, entende? Mas atualmente isso não tem sido muito bem interpretado. No mundo de hoje, todo mundo quer ser livre. Deus me livre ter que ficar respondendo perguntas para alguém.... Mundo estranho esse... Há tanta intimidade e ao mesmo tempo intimidade nenhuma.... Talvez o excesso de uma falsa intimidade tenha justamente acabado com a verdadeira. Difícil demais isso para a minha cabeça.

Transamos com desconhecidos - que frase de efeito. Aí você vai dizer: "que absurdo, eu não transo com desconhecidos". Sim, você transa. Nos enganamos fingindo que conhecemos, mas não. Conhecemos há uma, duas semanas. Um mês e olhe lá. Pronto, já  é tempo suficiente. Eu me engano às vezes assim também. Mas como não agir desta maneira quando o mundo corrido e desesperado de hoje nos leva para isso?  Conhecemos, trocamos whats, face, vemos fotos da vida inteira da pessoa, nos achamos íntimos e pah, lá estamos nós em plena intimidade com alguém com o qual não temos a me-nor intimidade. Lidar com isso seria fácil, se no dia seguinte não esperássemos por algo que não existe: uma relação. Não, não há uma relação, um relacionamento, um contrato dizendo que agora  podemos fazer as nossas perguntas tolas ou mandar msg apenas de oi como se estivéssemos juntos há tempos. Não, não estamos. E isso é confuso porque de um lado você tem o mundo inteiro dizendo: "vai, você é livre para fazer o que quiser com o seu corpo". Mas de outro, você tem a sua consciência dizendo: "espere, valorize-se". E aí, no auge da coisa, você segue seus instintos, mas no dia seguinte, pergunta-se se a sua voz interior não tinha razão...

Sabemos, ou pensamos que sabemos, tudo sobre a vida do outro: onde trabalha, quais festas frequenta, como é a família, qual o seu melhor ângulo para fotos. E mais: sabemos também se ele tem e onde ele tem pelos ou qual tipo de cueca/calcinha usa. Sabemos até a posição sexual que ele/ela  mais gosta! O problema é que sobre a alma sabemos nada ou quase nada. Sabemos do corpo, do cheiro, da barriguinha e da pele. Não sabemos sobre os pensamentos reais, sobre os desejos, sobre o interior, sobre as angústias/alegrias verdadeiras. Ah, como eu sinto falta de saber sobre o outro inteiro e não apenas sobre a sua pele, pelos e cicatrizes...

Sinto falta da época em que ir para a cama com alguém significava que havia uma cumplicidade entre corpos e almas. Sinto falta de fazer amor e não apenas sexo. Sinto falta de receber carinhos e abraços de manhã que não significassem apenas "mais sexo para aproveitar o tesão de mijo". Sinto falta de acordar e ficar coladinho simplesmente porque é gostoso ficar abraçadinho com quem se gosta. Resumindo: sinto falta de estar com alguém que eu goste de verdade. Mas como é difícil encontrar alguém para gostar de verdade hoje em dia.

Porque gostar de alguém significa não apenas saber o que está escrito no Facebook. Significa saber das loucuras, dos  devaneios, das paixões. Gostar significa, dizia alguém, expor a alma, deixá-la nua. Quantas pessoas você conhece que estão dispostas a isso? E eu, sinceramente, não estou a fim de ficar nua, poeticamente falando inclusive, diante de alguém que não queira o mesmo que eu. Infelizmente, no mundo de hoje, tirar a roupa do corpo tem sido muito mais fácil do que tirar a roupa da alma. 

Antes, eu pensava que todos queriam alguém, mas agora receio que não mais. Talvez, as pessoas ainda não saibam - ou não saibam mais - que completar a vida é bem mais gostoso que completar a noite. Que é muito mais gostoso aproveitar um dia de cada vez do que a vida inteira em duas, três horas. Que mostrar a alma seja mais complicado, mas muito mais prazeroso do que mostrar o corpo. Talvez um dia eu encontre alguém assim. Acho que eu deveria seguir sempre a minha voz interior: valorize-se, valorize-se... 

domingo, 5 de abril de 2015

Baixando, Terra, voltando!

Voltei. 
E fiquei pensando se eu deveria dar uma explicação sobre o meu sumiço ou contar todas as coisas estranhas que aconteceram em minha vida desde a minha última publicação - e acreditem, foram muitas coisas estranhas mesmo - ou se eu deveria simplesmente voltar a escrever como se nada tivesse acontecido. Acho que escolhi a terceira opção.

Nada pessoal, mas o fato é que tudo o que tem acontecido ou aconteceu em minha vida nos últimos meses não vai mudar o meu desejo e a minha ânsia de escrever novamente. Devo confessar também que criei muitos outros blogs, mas como é digno de mim - giro, giro, giro e sempre volto ao lugar inicial - decidi que a minha volta deveria ser por aqui mesmo, pelo Pra Que Mesmo?, afinal, aqui estão os anos reais de minha existência. Minhas crises e minhas alegrias. Neste espaço estão as minhas mais sinceras e íntimas palavras, loucuras, dúvidas e interpretações. Não tenho como começar uma vida do zero, então decidi que também não começarei um blog do zero. Minha vida, como aprendi com Clarice, a Lispector, já está em andamento... Não dá mais pra começar do nada, simplesmente colocando um parágrafo e uma letra maiúscula. Começo com uma vírgula então, afinal, tudo aqui faz parte de mim. E eu quero tudo que faz parte de mim em mim: as coisas boas e ruins. Todo o meu passado me tornou quem eu sou hoje, e disso eu não posso - e nem quero - fugir.

A ideia é escrever semanalmente. Assuntos diversos. Assuntos, assuntos, assuntos. O plano principal continua sendo o mesmo: esvaziar a mente, pois, já dizia o poeta: escrevo porque preciso. Atualmente estou em um momento mais lúcido e quiçá mais maduro, por isso, não se assustem com textos anteriores, afinal, o blog tem quase dez anos e logicamente muitas águas já passaram por baixo dessa minha ponte bamba... Bom, vejamos o que será daqui  pra frente.


Sejam todos bem-vindos.
Aos novos amigos e aos amigos de sempre, um grande abraço.

Elem

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Persuasão

E se você me perder de vez? E se você jogar fora tudo o que sinto por você? E se você me convencer de que eu não te quero de verdade? Já pensou?  Lamentarei a sua indecisão, a sua imaturidade, a sua falta de idade, a sua decisão errada – ou não. Lamentarei estarmos em ritmos tão diferentes. Lamentarei tantos momentos jogados fora, momentos que nem existiram, mas que eu sei que seriam bons. Ou ótimos. Ou péssimos. Mas nenhum deles existirá mesmo, portanto, nem importa. Se tudo isso acontecer, eu não vou te pedir pra voltar, não vou te implorar pra ficar, não vou te dizer nada, nem mesmo vou pedir um último beijo ou um último abraço. Eu nem mesmo vou chorar. Eu vou te respeitar. Vou deixar você me perder e me convencer de que eu não te quero. Vou deixar você ir e de longe vou pensar no quanto eu tenho certeza de que seria muito bom sermos “nós” ao invés de “eu” e “você” apenas. Vou deixar você me convencer porque nunca fui boa em lutas emocionais. Vou te ver ir embora e vou ficar quietinha, no melhor estilo “assim seja”, porque mesmo que eu tenha tantas certezas em meu coração, você terá me convencido de que eu não te quero de verdade, você terá me convencido de que você é só um capricho bobo de uma menina mimada. Vou te deixar ir, mesmo sabendo que no futuro você vai olhar pra trás e se arrepender, não por eu ser boa ou perfeita pra você, mas porque na minha imperfeição e no meu jeito torto, eu gosto tanto e tanto e tanto que você chega a duvidar que seja real. Se você me perder de vez, vou deixar você ir e direi apenas: você tem razão, eu não te quero. Mas sei que dentro de mim, estarei pensando: você não entende nada mesmo.  

domingo, 18 de agosto de 2013

Autobiográfico

E aí quando você vê, você fez de novo. E de novo. E de novo. E no dia seguinte é sempre a mesma sensação de que não devia ter feito. Você pensa e repensa no quanto ele erra e no quanto você não consegue resistir aos seus encantos. Passa uma semana inteira jurando nunca mais permitir que ele brinque assim e te use assim e te conquiste assim, mas não adianta, basta ele chegar perto, te abraçar daquele jeito apertado e sussurrar algumas palavrinhas bonitas no seu ouvido que você já está entregue. Mesmo quando o seu (sub)consciente grita e berra: NÃO, ELE NÃO TE MERECE! FUJA AGORA!! AINDA DÁ TEMPO!! E no dia seguinte você acorda com aquele gosto de cabo de guarda-chuva ou com aquele gosto amargo de desilusão. Passou mais uma noite, mais uma vitória dele. Mais uma derrota sua no último minuto do segundo tempo. E ele? Ele que se acha tão especial e tão bonzão e tão perfeito, e acredite, ele está bem longe disso, ri da sua facilidade e da sua vulnerabilidade. Aliás, ele nem ri, porque no dia seguinte, ele nem lembra que você existe. 
E aí você se irrita e xinga e chora e escreve textos e promete que nunca mais fará de novo. Mas lá no fundo você sabe que fará de novo sim. Você sabe que duas semanas passarão e, olha, lá estará você de novo, na mesma situação, rindo, para depois de algumas horas estar com o guarda-chuva enterrado na goela. Sabe o que é isso? Falta de vergonha na cara. E as suas amigas todas falam, os seus amigos todos falam: "você vai se foder. E se foder por um cara que não te acrescenta nada, nem uma gota". E você sabe que vai. Você sabe que já está mais do que fodida. E sabe que ainda vai se foder mais porque você tem gosto pelo sofrimento. Sabe-se Deus o porquê disso.
E quer saber? Você nem precisa dele. Ele precisa de você. E todo mundo te diz isso e você sabe disso. Ele precisa de você e não o contrário. Ele é o doido. Tá, você também é... mas ele é mais. Sabe quantos carinhas te chamam pra sair e te cantam e te olham e te mandam mensagens e te pedem em namoro? E você aí, noiada, travada, mesmo tendo consciência do quanto você realmente não precisa dele e do quanto ele realmente precisa de você, mas... sei lá o que acontece.  Quem sabe, o feitiço tenha mesmo virado contra o feiticeiro. Vai entender...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ilusão

E eu de repente me dei conta de que você não é um ser imaginário, tipo aqueles amigos invisíveis que as crianças têm e com quem elas mantêm contato por um tempo e que, de repente, sem avisar, as abandonam. A diferença é que com os amigos imaginários nós nos conformamos com o sumiço porque no fundo sabemos que nunca foi real.
Assim, sem mais nem menos, eu percebi - ou lembrei, sei lá - que você não é apenas fruto da minha imaginação ou algo que eu desejei tanto que se tornou concreto em minha mente. Não, você é mais que isso. Você é lembrança. E lembrança a gente só tem de algo que realmente existiu, de algo que realmente aconteceu.
Estava deitada, mais uma vez, pensando no quanto eu gostaria que você estivesse aqui comigo. E então, a sua presença invadiu o meu quarto, uma lembrança latente de você aqui dentro:  na cama, no quarto, no banho, na varanda. Em cima de mim. Quase pude tocar o seu corpo novamente, quase pude passar a mão pelos seus cabelos finos que eu tanto gosto(ava), quase pude acariciar sua tatuagem, a das costas, aquela que eu ficava olhando nos raros momentos em que você se virava de costas para mim. Não, eu não imaginei tudo isso. Aconteceu. Foi real. E como num transe, eu te vi, te lembrei, te toquei, te senti. De novo e tão vivo, tão concreto como costumava ser. E doeu. Doeu saber que você existe, continua existindo, mas não mais aqui comigo. Não mais fisicamente. E doeu mais ainda perceber que tudo já foi real e agora não é mais. E que agora você só existe dentro da minha cabeça tonta, desnorteada e perturbada. E eu que nunca tinha me dado conta disso, hoje me dei. E mais do que nunca senti saudade. Uma saudade tão imensa e tão dolorida e tão profunda que me tirou o sono... E me deixou aqui com a sua presença, inebriada e caótica, como não deveria ser.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

E enquanto isso...

Se eu fosse uma adolescente, lhe entregaria uma carta cheia dos corações e estrelinhas, daquelas melosas e tolas, onde, por meio das letrinhas tortas, lhe contaria sobre o meu amor. E qualquer adulto que lesse, diria: "Amor? Que amor? Adolescentes ainda não sabem o que é isso!".
Mas eu não sou mais uma menininha no auge dos 15 anos, que jura amor eterno a um outro menininho de mesma idade. Não, definitivamente não sou. Sou uma velha mocinha que sofre como uma garotinha, que os adultos olham e dizem: "Amor? Que amor? Essa menina ainda não sabe o que é isso!". Porém, que sofre do mesmo jeito e também jura amor eterno com letrinhas tortas ao menininho que não tem a mesma idade.
Mas o tal adolescente, destinatário da minha paixão, agiria como todos os menininhos de 15 anos: ele leria a carta e ignoraria o meu sentimento. Afinal, como todos os meninos dessa idade, ele tem outras preocupações, que não a minha carta de coraçõezinhos e estrelinhas... 
Depois de ler, ele a jogaria em uma gaveta qualquer, junto com outras cartinhas de outras menininhas. E em meio a bilhetes usados de futebol, revistas em quadrinhos velhas, fones de ouvidos estragados, peças perdidas/quebrados de um brinquedo, canetas e pilhas que não mais funcionam, ela se tornaria tão sem valor quanto todas essas coisas...E o meu sentimento ficaria por ali, perdido, escondido, esquecido, ignorado. Mas só ali na gaveta do menininho bobo. Do menininho que ainda não sabe o que é amar. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu, a Raposa e o Príncipe

E eu continuo achando que o problema maior de todas as separações são os campos de trigo que ficam espalhados pelo caminho. E eu confesso, e nem precisaria, que tenho dificuldades para continuar vivendo a minha vidinha quando há em volta de mim tanto trigo espalhado. Porque sim, não importa quanto tempo dure uma relação, os campos de trigo sempre se fazem presentes. 

Saint-Exupéry contou-nos uma história há muito tempo. Um principezinho de um planeta distante veio à Terra e aqui conheceu a Raposa, que lhe pediu que a cativasse, pois se assim o fizesse, tudo para ela teria  sentido, pois teria sido cativada. O problema é quando nos deixamos cativar, corremos o risco de chorar, já dizia ele. Um dia, quando o principezinho vai embora, ele deixa vários trigos, que são as recordações de tudo o que foi vivido. O problema é que eu, diferentemente da Raposa, não sei lidar com isso. Eu não sei recolher, ignorar ou esquecer os campos que ficam a minha volta quando alguém se vai.

Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa nenhuma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

"E eu amarei o barulho do vento no trigo...". Não, eu não mais amo o barulho do vento no trigo.  Eu não sei lidar com o trigo que ficou espalhado em meu quarto, em minha casa. Antes, era simplesmente o meu quarto, o local onde eu descansava e dormia. Não é mais. Hoje, o quarto tornou-se um grande campo. E eu não amo o barulho do vento no trigo. Pelo contrário, eu odeio olhar a varanda vazia, o cinzeiro sem o seu cigarro, a cama sem o seu corpo e a toalha azul estendida sem uso. Odeio também a parede fria onde eu adorava dormir encostada, porque ela também tornou-se um trigo para mim... Você fez isso. Você transformou tudo o que havia aqui em uma única sensação de "ele não vem mais". 


- Por favor... cativa-me! disse ela.- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa nenhuma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...



Não, eu não pedi que me cativasse. E nem você pediu, eu sei. Mas, primeiro, você me olhou com canto de olho. Depois, eu te olhei também. E então, a cada dia você se sentou mais perto, mais perto, mais perto, até que, puff!, lá estávamos nós... sentadinhos à mesa, juntos, comendo, conversando e rindo como qualquer casal que ri dos acontecimentos do dia e troca informações bestas e banais sobre tudo. Casal este que nem chegamos a ser de verdade. Sim, você me cativou. VOCÊ me cativou. Tola que fui. Você me cativou... E eu passei a conhecê-lo bem. Mais até do que eu precisava ou esperava. Mas depois dessa etapa, o principezinho se vai. O principezinho e você. E você se foi.

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada.
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Sim, a culpa é minha! Eu permiti você aqui. EU permiti. E agora eu não quero a cor do trigo apenas. Eu não quero a toalha sem uso, o cinzeiro vazio, a cadeira abandonada na varanda, o banheiro desocupado e cama espaçosa. Eu não quero campos de trigo e nem trigos e nem espigas e nem nada que apenas me lembre. Eu quero você. Aqui. Presente. Nada de outros planetas, outros campos, outras plantações. Quero você aqui. Para rir comigo, para falar abobrinhas, para atender a porta, para dar oi pro porteiro e principalmente para envergonhar os vizinhos com o barulho que a gente faz... Sim, eu quero você e não apenas as lembranças de você. As lembranças doem, sabia? 

O principezinho se foi. Voltou para o seu pequeno asteróide... Você também se foi. A diferença na minha história é que você não se lembra mais do que ficou aqui. Lá no livro, a lembrança permaneceu para sempre no coração do Pequeno Príncipe; aqui, não. E eu estou aqui, deitada na mesma cama, escrevendo esse texto dramático e pensando em qual constelação você brilha agora... Sinto tanto a sua falta, e eu só queria que você soubesse. E que (eu/você) pudesse fazer algo. 

domingo, 14 de outubro de 2012

De novo.

E ele tinha todas as características que eu sabia que me dariam problemas no futuro. Bonito, falava baixo, discreto... sim, ele me seduziu. E desde o começo eu sabia: esse cara vai me enlouquecer. Eu sempre soube disso, não posso dizer que não... eu sabia. Até tentei não deixar, tentei controlar as emoções e manter os dois pés firmes no chão, mas quando ele me disse "não quero mais", eu me dei conta do quanto eu estava ferrada. De novo.
Na verdade, ele nunca me disse "não quero mais", mas alguma coisa aconteceu. Alguma coisa que eu não  sei explicar o quê. Mas eu que tentei terrivelmente não me apaixonar de novo e por ele, logo por ele??, chorei. Um dia, no primeiro dia que eu percebi que algo estava estranho, sentei na minha cama, abracei as pernas e chorei. Chorei como uma criança que se machuca e não tem pra quem contar e o pior, não sabe o que fazer com a dor que está sentindo... Chorei ali, sentadinha, de perninhas grudadas ao corpo e pedi a Deus que não o tirasse de mim, porque mesmo sabendo que eu corria grandes riscos com ele, meus olhinhos brilhavam quando eu pensava nele ou na gente... E eu estava feliz. Muito feliz, apesar de tudo. 
E foi ele quem me fez escrever novamente. Apaixonada, como sempre, sofrendo, como sempre, queria - mais uma vez - dizer pra ele que não é  justo ele me deixar assim, que não é justo ele permitir que eu sinta tanta falta dele enquanto ele simplesmente me ignora. Mais uma vez. Não pode ser correto ele permitir que eu sinta tanta saudade dele quando ele poderia simplesmente vir aqui, me abraçar e dizer: passou. E fazer realmente tudo passar. Pra sempre. Ou até a próxima semana. 
E eu queria olhar pra ele e dizer: eu gosto de você. Eu gosto DE VERDADE de você. Mas como? Eu não sou segura o suficiente para isso... E aí, vou assim, sorrindo e fazendo outras coisas que só me fazem pensar cada vez mais nele. E ele? Está lá. Como sempre esteve... Bonito, falando baixo, discreto e seduzindo... 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Inveterada

Eu sei, eu deveria escrever mais, pensar menos, viver mais, sofrer menos. Mas que posso eu fazer se tenho gosto pelo sofrimento? Gosto das frases tristes, das histórias sofridas, dos romances não concretizados, dos amores amargurados e enterrados e renascidos e ressurgidos. Que posso eu fazer se, como os antigos poetas, acho linda a dor de amor?

Deveria, eu sei, celebrar todos os dias as alegrias e a jovialidade do amor. Ok, acho bonito tudo isso de amar e viver num eterno mar de rosas... bonito sim, mas não atrativo. Gosto das histórias, dos dramas - mesmo que eu negue até a morte ser dramática - , dos rolos e enrolos do amor, se me permite a língua portuguesa um possível neologismo.

Gosto dos textos tristes e apaixonados e rasgados e sofridos e ensaguentados. Neles eu me encontro.

Admito, sou uma romântica inveterada. E no sentido original da palavra.


sábado, 17 de março de 2012

Sobre Facebook e Schopenhauer

E em tempos de tecnologia, a vida do outro virou o nosso melhor passatempo. Melhor que o chopp com os amigos, melhor que o bate-papo com a família, melhor que ver o sol - já dizia a propaganda do Sundown. E como a nossa vida virou espetáculo alheio, resta-nos então mostrar... felicidade, claro!
Sim, estava eu aqui no vício, em pleno sábado à noite, confesso - e pensei nisso. Aliás, sempre penso. Por que todo mundo é tão bonito, tão feliz, tão inteligente e tão interessante nas redes sociais? Conheço 98% das pessoas do meu Facebook e sei que boa parte não é nem um terço daquilo que se apresenta por ali: não é tão feliz, não é tão culta, não é tão cool e nem é tão bonita quanto demonstra - e viva a fotogenia, inclusive a minha!
Acho que nem os próprios usuários de internet têm noção da exposição a que são submetidos. No mundo das redes sociais, somos avaliados o tempo inteiro. Pelo que postamos ou pelo que não postamos - "Como assim ele ainda não colocou Relacionamento Sério??? Que absurdo! Se eu fosse a namorada dele...". Através da net, sabemos se namoros começaram ou terminaram, se o casal está bem ou não, se o Fulano de tal está pobre ou rico, se a Ciclana está delirando de solidão ou surtando de depressão, se a Beltrana se assumiu finalmente, etc. Não interessa o que cada um escreve: real ou não, TUDO será julgado.
A verdade é que o Face (dentre outros) nos tornou mercadorias. Vendemos imagem, tal qual as propagandas da TV. Mas, dessa vez, o produto vendido somos nós mesmos. E exatamente por isso as pessoas se tornaram tão felizes e perfeitas. A era da informática nos presenteou com uma vida de vitrine, uma vida de comercial de margarina. E alguém aí quer ficar por baixo? Nem pensar... Todo mundo então feliz, apaixonado, vivendo cada segundo e lendo os maiores escritores do mundo...Um, dois, três e já! Postando!
A gente não conhece mais as pessoas, e sim quem elas são apenas virtualmente falando... Quais páginas seguem, quais os interesses, relacionamentos e amigos... O importante é aumentar o número de contatos, mesmo que você não fale um "oi" pessoalmente. O que importa é quantos "curtir" você ganhou no seu post mais recente...
Não vejo grandes problemas em fazer parte deste novo mundo, só creio que tenhamos que ter certos cuidados... Especialmente para não passarmos por ridículos, falsos ou hipócritas. Crianças se passando por adultos, vacas se passando por Sandys, namorados dominados se passando por pegadores e, o pior, portas querendo se passar por intelectuais. Claro que tudo isso é reflexo da sociedade em que vivemos. Onde o EU é o mais importante ser de todo o universo.
Em um mundo de celebrities, todo mundo quer ser uma também. Todo mundo quer ser famoso, seguido, curtido e assinado, por isso, nascem tantos tipos de redes sociais - e justamente fazem tanto sucesso aqui pelas terras Tupiniquins. Tem redes sociais pra todos os tipos e gostos: para responder perguntas, para postar fotos, para desabafar, para dizer os passos durante o dia... Tem de tudo! É muita necessidade de atenção, eu acho. Mas será que tudo isso é saudável?
Já aprendemos que nenhum exagero é salutar. Faz tempo. E sem mencionar, é claro, o tempo perdido diante do computador, alimentando ócio e sentimentos mesquinhos... E tudo isso pra quê? Para passar a mensagem de que "sim, eu sou feliz, bonito e inteligente. Mais do que você.". E precisamos entrar no tema "indiretas-que-a-gente-joga-pela-rede"? Não, ... Pura perda de tempo.
Bom, eu tenho me segurado no mundo virtual. Tenho escrito bem menos sobre minhas intimidades e até mesmo no Face tenho diminuído bastante os meus comentários sórdidos, minhas fotografias e minhas alfinetadas. Às vezes, ainda tenho vontade de xingar umas pessoas, mas me seguro. Outras, tenho vontade de postar coisas fofinhas, que sei que as pessoas vão ler e dizer: "hummm, a Elem está apaixonada... Por quem será dessa vez? " e nem é verdade. Às vezes, eu só achei bonitinho e quis compartilhar. Ponto.
Agora, inventar historinhas do tipo "terminei de ler o meu Dostoievski" ou citar Schopenhauer só pra se passar por intelectual, isso eu não faço. Não crio personagens para parecer mais legal ou para "ficar bem na fita". Mas tem gente que faz. E como. E como se passam por idiotas também...

Bom, acho que é isso...
Bom final de semana para todos!
Fiquem com Deus!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Insônia

(...)

E aí ela me diz que tem dificuldades para esquecer, para deixar as coisas do passado no passado. E eu fico pensando em quantas vezes eu desejei que as coisas do passado realmente ficassem por lá. Mas elas não ficam. Elas me assombram e me chamam e me arrastam pra ele novamente. E eu vou. Eu vou porque lá é sempre melhor, lá é sempre mais confortável do que o real, o atual, o agora.

E ela me diz ainda que se realmente tudo fosse perfeito como eu penso, eu ainda estaria lá ou ele ainda estaria aqui, sei lá qual a ordem correta, mas ainda seríamos um, mas ela não entende o que acontece. Ela não entende e nem conhece o que se passa... E queira Deus que ela nunca precise conhecer.

E eu penso e peno e reflito e choro e grito e esperneio. E ele não está. E ele continua não estando. E eu penso novamente em ligar, em chamar, em dizer, em perguntar, em questionar o porquê de ele não estar aqui, de não estarmos aqui. Por que ele é o amor da minha vida??? Porque ele É o amor da minha vida. Ou não é? Ele é, eu sei. Eu sei disso. E ela me diz agora que se ele realmente o fosse, eu não sofreria. Mas ela não sabe que eu sou romântica, dramática e canceriana. E que eu quero pensar que ele também pensa, seja lá em qual cama estiver, que eu também sou o amor da vida dele e o quanto ele foi burro por ter me deixado partir.

E ela me diz que não é, que é ilusão, que é utopia, q é idiotice, tolice, babaquice ou qualquer outra coisa que termine com ice. E eu ouço e penso mais um milhão de vezes em como dói gostar de alguém pra sempre, pra sempre, pra sempre. E dói eternamente. E eu tenho medo disso nunca parar, curar, ter fim.

(...)

E eu penso em como vivo uma vida paralela, abrindo portas e janelas e paredes e coisas que eu nem quero de verdade. E penso ainda em por que faço, tão instintivamente, se eu realmente não quero nada disso, se eu não quero nenhuma delas, mas só a primeira de todas as portas, aquela que me fez abrir todas as outras - como se alguma vez na vida eu tivesse tido algum real interesse em abrir alguma coisa que não fosse a minha alma para ele. Quero justamente a única porta que está fechada. E aí, elas, as portas, janelas e paredes, vão ficando assim, abertas, sem graça, desbotadas e deslocadas enquanto eu simplesmente caminho por elas, fingindo interesse e brincando por algumas semanas até que aquilo se torne sufocantemente falso demais e estúpido demais e sem graça demais. Então, eu volto pro mesmo lugar quente de sempre e de antes e choro e grito e esperneio. E penso em te ligar, em te chamar, em te perguntar, em te dizer mais uma vez: me tira dessa droga de vida, me salva, me resgata, me acorda desse sonho terrível que é viver sem você. Vem e foge comigo, pelo amor de Deus.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Tired

Pode ser só cansaço de final de ano, pode ser só cansaço físico e mental. Emocional, principalmente. Cansaço e uma vontade incrível de pegar uma mochila, colocar nas costas e sumir por alguns dias.

Preciso de novos ares. Fato.

Que venham as férias.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Quinto pecado capital: a inveja

E você acha que eu não queria ser como ela? Acha mesmo que eu não queria ser bonitona, descolada, viajada e ainda por cima ter aquele monte de fotos suas no meu álbum, assim como ela? Sim, eu queria. Eu também queria muito ter fotos suas me beijando na minha página do Facebook, pra todo mundo olhar e dizer: "ai, que fofos esses dois" ou até mesmo "ui, por que essa vadia existe na vida dele??"... Mas não, eu não tenho. Eu não tenho o cabelo dela, eu não tenho os olhos dela, eu não surfo, eu não sei dar piruetas no ar, eu nunca esquiei com você e nem muito menos viajei pelo mundo ao seu lado. Ok, eu também faço luta. Mas o que é isso diante de tudo o que o meu amigo Face me contou? Sou meramente a luva de boxe pendurada no seu chaveiro. Só. E mais emblemático, impossível.

E isso tudo pensando que eu nem sou feia, que eu nem sou tão careta e que eu nem sou tão enraizada a apenas um lugar... Mas ela... ela tem um quê a mais. Ela tem um alfabeto inteiro a mais. Ela tem - e sempre terá - um lugar eterno no seu coração. E eu tenho ciúmes disso. Tenho ciúmes de todo mundo dizer que ela era tããão gente boa, que ela era tããão bonita, que ela combinava taaaanto com você... E eu?? Eu também sou gente boa, eu também sou bonita, eu também combino com você. Ela é passado. Eu sou presente. E eu quero muito ser o seu presente. Pra sempre.

Dá pra entender isso?