domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sonhos sobre a mesa

Houve um tempo em que tudo o que eu mais queria era ter uma vidinha de Amélia, com marido, filhos, cachorros e jantares no final do dia. Nada além disso. Não queria grandes carreiras, não queria grandes contratos, não queria grandes promoções. Queria apenas uma vidinha simples e pacata. Vidinha de mãe e dona de casa.
De repente percebi que passaram os anos e nada disso aconteceu. E de repente percebi que isso não é mais o que eu mais quero. Pelo menos, eu achava que não. É como se eu tivesse desistido desse sonho de menina, sabe ? Lembro que quando eu era criança, existiam uns cadernos de perguntas - que todas as meninas já responderam - e sempre tinha uma pergunta: "Qual é o seu sonho ?" e lembro que eu sempre respondia: “meu sonho é casar e ter filhos.”
Eu sonhava com a mesa da cozinha, com uma toalha vermelha, onde eu punha o jantar para o meu marido que acabara de chegar do trabalho e para o meu filho pequeno. Sei lá de onde tirei essa imagem, mas eu sempre via a mesa com a toalha, as cortinas nas janelas, a fruteira, as frutas, os pratos sobre a mesa... Sei lá, essas coisas que toda casa normal tem. Era o meu sonho. Simplesmente isso, constituir uma família que fosse minha e nada mais. Só que pelo visto, a coisa não deu certo. Talvez se eu tivesse desejado coisas mais difíceis, teria sido diferente. Talvez o problema tenha sido esse: o sonho era simplista demais, rs.
Mas fico agora pensando: "a coisa teria dado certo". Será então que alguma coisa realmente deu errado ? Tenho a minha vidinha, tranquila, mas tenho. Não, não tenho filhos e nem marido. Tenho cachorros, pelo menos. Cumpri um terço então, rs. Mas depois de tantos acontecimentos ao longo dos meus 29 anos, fico pensando se realmente quero que esse sonho antigo renasça dentro de mim. Talvez hoje eu tenha uma visão menos romântica disso tudo... Talvez eu queira apenas parte disso... E talvez eu tenha abdicado do sonho por não tê-lo cumprido. Será que é isso ? Quem sabe...
E confesso, mais uma vez, que às vezes me sinto frustrada por não ter feito o mínimo do meu “papel-feminino-na-sociedade” que é ter filhos.
Tá, eu sei, você vai dizer: "Meu Deus, parece uma velha de 80 anos falando! Desde quando uma pessoa de 29 anos não pode mais ter filhos ?" Não sei porque, mas eu penso assim... não me vejo mais tendo filhos, já me acho velha demais pra isso... Principalmente quando vejo as mães dos meus alunos.... E quem é professora - sem filhos - sabe do que estou falando. Enfim.
Vamos lá: e hoje, o que eu mais quero da vida ? Não sei se eu sei... Sinto-me feliz com o que tenho: família, amigos, trabalho. De verdade. É uma vidinha gostosa, não tenho do que reclamar. Maaaas hoje, sei lá porque cargas d'água, olhei para a parede do meu quarto e lembrei da toalha vermelha na mesa da cozinha. Aquela velha mesa que eu nunca conheci. O tecido pareceu-me desbotado. Bem desbotado, aliás. Mas mesmo assim, ainda estava lá. Percebi então que no fundo o sonho ainda existe, só que perdido em algum lugar dentro de mim, quiçá esperando para ser realizado. Pensei: será que eu realmente não tinha me dado conta disso ou simplesmente fiz ouvido de mercador ? Hummm... façam suas apostas... Eu já tenho o meu voto mas, diante das circunstâncias, prefiro manter segredo... rs

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Happy Birthday

Eu sei... prometi que não falaria mais sobre isso, mas é aniversário. Abri uma exceção.

Seria mais fácil se fosse diferente: se você beijasse mal, se o sexo não fosse bom, se você não fosse divertido, se você não me alegrasse com a sua companhia... Sim, seria mais fácil livrar-me de você se fosse desse jeito. Mas infelizmente não é.

Gosto da sua voz - mesmo você cantando mal, gosto de como me faz rir e até de como me deixa irritada, gosto do seu cheiro, do seu gosto, do seu beijo e do modo como toca o meu corpo. Gosto quando me abraça, quando me chama de "pequena", de "nega", de "neguinha". Gosto do seu jeito de ficar nervoso (coloca as mãos na cabeça e fica repetindo frases sem sentido aparente). Ah, e claro, o principal e mais estranho: gosto quando me explica tudo sob o olhar da Física.

Estou tão acostumada a você... Ouço sua voz todos os dias, ficamos horas no telefone, você fala sem parar, ri, toca berimbau, canta e até faz serenata pra mim (com violão e tudo!). Manda mensagem "te adoro", olha nos meus olhos e diz "gosto tanto de ti" e "és tão bonita"... Deita no meu colo, abraça minhas pernas e questiona "por que gosto tanto de ti ?" Não sei a sua resposta. Mas eu sei a minha, eu sei porque gosto tanto de ti... E sinceramente, queria muito que você soubesse a sua também... Enfim.

Parece uma novela a nossa história, um dramalhão mexicano que não sei onde vai dar. Todo mundo vê, todo mundo percebe, todo mundo se mete. Mas te gosto mesmo assim. Mesmo com seu jeito louco, com seu autismo e com sua hiperatividade, com suas neuras de CDF ("tenho que ir embora, tenho que estudar" "mas são 4h da manhã" "é... por isso mesmo, tenho que estudar e já está tarde"). Sim, você me irrita com a sua loucura, me irrita com sua falta de respostas, mas sei que és um "bom menino". Tens um coração enorme... Tão grande que eu chego a me perder dentro dele... Às vezes, tenho a impressão que por ser tão grande, seu coração me perde...

Como agora...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Apadrinhe uma criança"

Esta é a chamada de uma nova campanha que está sendo veiculada na tv. Uma propaganda que tem como intuito a comoção dos telespectadores. Bom, não me comoveu. Muito pelo contrário.

O que aparece ? Uma menininha de 4 anos e seus irmãos gêmeos de 8 meses de idade, morando em um barraco onde cabem apenas uma cama de casal e um fogão. Mostra também a menininha atravessando o lixo e o esgoto a céu aberto. Enquanto as imagens são passadas, uma voz vai narrando a triste história de vida da(s) criança(s) e no final, o narrador diz que nós - sim, você e eu - podemos mudar essa situação de uma maneira muito simples: apadrinhando essas crianças - ou quaisquer outras que se encontrem na mesma situação.

Pois bem, eu assisti àquilo e pensei: apadrinhar uma pinóia! Por que o governo não investe em programas de controle de natalidade ? Em saneamento básico ? Em melhoria de qualidade de vida ? Pelo amor de Deus, tem que ser muito ingênuo para crer em campanhas desse tipo! Desde quando apadrinhamento é a solução ? Aliás, não passa nem perto disso. Pensa comigo: eu apadrinho uma e você outra. Aí, a mãe e o pai dessas crianças vão lá e pimba: fazem uma nova para ser "apadrinhada" também. Quer dizer que é assim que se resolve o problema da pobreza no Brasil ? Que estranho... Deve ser por isso que somos tão ricos...

Esse tipo de apelação não é de se espantar em se tratando de um país que tem um governo tão assistencialista quanto o nosso - temos bolsa-escola, bolsa-familia, vale-gás, programa baixa-renda, dentre tantas outras “ajudinhas”. Além do mais, a idéia do DAR está entranhada na nossa cultura. E ainda achamos bonito, afinal, somos um povo tão solidário... Lógico que temos que ajudar. Não discordo disso, mas o que não pode acontecer é transferirmos uma responsabilidade que é do Governo para nós, meros mortais.

Quer um exemplo prático ? É obrigação do governo oferecer ensino público, gratuito e de qualidade. Mas ele faz isso ? Não... Aí o que nós fazemos ? Aceitamos de bom grado programas como o "amigos da escola", o "pró-uni" e as "cotas para alunos com baixa-renda". Afinal, é um meio de tapar os buracos deixados. Pare e pense comigo: se o ensino que o governo oferece fosse de boa qualidade haveria necessidade desses programas ? Claro que não e você sabe disso. Mas ele não fornece ensino de qualidade. E aí o que acontece ? Damos um jeito de tapar o sol com a peneira, como se diz. A gente joga a sujeira pra baixo do tapete e fica tudo certo. Ou não ?

A escola pública não tem professor ? Manda um voluntário dar aulas para as crianças. Não tem dinheiro para pintar a fachada ? Faz um mutirão com pais, alunos e professores e pintemos nós mesmos, com nosso dinheiro e nosso esforço. O ensino básico é uma bosta ? Então vamos reservar cotas nas universidades públicas e oferecer bolsas nas universidades particulares. Percebe o que eu digo ? Eu teria mais um milhão de exemplos pra dar, mas nem vale a pena. Acho que já consegui deixar claro onde quero chegar.

Voltando: já comparou o número de filhos nos países mais desenvolvidos com o número de filhos dos países menos desenvolvidos ? Será que tem alguma relação ? Sim, e a relação é: quanto mais desenvolvido, menos filhos. E nós, por sermos potência, temos até incentivo para tê-los! Tá duvidando ? O que é o bolsa-família senão um incentivo para o aumento da família ? Eu lembro de uma escola que tinha uma mãe que ganhava quase 700 reais por mês só de bolsa-escola !!! Você acha que esse dinheiro era investido na educação na criança ? Uma ova.

Ah, você vai dizer: "mas se ela não investia, o problema é dela! O governo fez a parte dele!" Gente, vamos acordar, por favor... Será que não seria mais jogo dar uma profissão pra essa mãe ? Será que não seria mais jogo instruir essa mulher a não ter mais filhos ? Talvez se ela tivesse uma ocupação e uma boa orientação não ficasse tendo um filho por ano sem ter nem como SE sustentar....

Existe uma idéia muito errada sobre o ajudar, sobre o ser solidário. Claro que doar cestas básicas, roupas, calçados e alimentos é muito importante e muito útil também. Faz bem para a alma, inclusive. Mas não podemos perpetuar a pobreza de uma pessoa. E como fazemos isso ? Com programas sérios que erradiquem a causa do problema e não apenas as conseqüências.

Mandar caminhões de comida pro sertão vai amenizar a fome de centenas de pessoas, com certeza. Mas a comida no dia seguinte acaba. E depois que acabar, lá estarão todas aquelas famílias novamente à mercê da sorte. Mandar dinheiro para apadrinhar a menininha da propaganda é de boa fé, mas dar educação e emprego para aquela família é possibilitar um futuro melhor. Isso sim funciona. O resto é conversa fiada, é balela.
Pensem nisso quando virem esse tipo de campanha... A dica é: mantenham os olhos abertos e sejam críticos. Afinal, nem tudo o que reluz é ouro...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Marcas, Obras e Heranças

Porque as pessoas têm o péssimo hábito de tirarem suas próprias conclusões e a partir delas, criam suas verdades absolutas e histórias quase reais... - Parece que não tem relação com o texto, mas tem...


Assisti a uma palestra hoje que me fez pensar em algumas coisas. O palestrante dizia algo sobre como deixamos a nossa marca no próximo. A pergunta principal era "Qual é a sua obra ?" Claro que ele não estava falando de obras civis e nem nada relacionado à engenharia. Tratava-se de obras, de heranças e de marcas impressas na alma: o que você vai deixar marcado no outro ? E no mundo em que você vive ? Pois é, a palestra era voltada para a educação, mas estou trazendo a pergunta para um outro ponto: qual a marca você está deixando nas pessoas que vivem ao seu redor ? E indo um pouco além, questiono: por que às vezes insistimos em ferir aqueles a quem amamos ? Qual a necessidade que temos de afastar as pessoas que nos amam ? Não sei, sinceramente. E deixo aqui um questionamento que não me sai da cabeça esta noite:

Por que insistimos em magoar as pessoas que nos amam ?

É difícil perceber que uma palavra mal colocada pode alterar todo o curso de uma relação ? Pare e pense com seus botões: quantas vezes você disse algo e depois se arrependeu ao perceber o estrago causado pelas suas palavras ? E agora pense mais um pouco: quantas vezes você disse algo que, mesmo não querendo, feriu de morte alguém ? E finalmente: qual foi a sua reação diante dessas situações ?

Pois é... eu, inúmeras vezes, machuquei pessoas com palavras. Em 95% dos casos, eu não tive a menor intenção. Falei e depois percebi o que tinha feito. Mas como já sei que tenho esse defeito, tento me policiar o máximo que posso, estou sempre cuidando com o jeito e com o que falo. Mas confesso que nem sempre consigo. Porém, quando percebo que alguém está de bico comigo, me coloco no lugar da pessoa e peço desculpas. E acredite, não é da boca pra fora. Peço desculpas de coração por ter falado demais. Ou de menos. Muitas vezes nem acho que aquilo feriu, mas se a pessoa está reclamando, mesmo assim eu vou até ela. Este é um exercício constante de humildade. E nem sempre é fácil.

Justamente por isso, gosto muito que as pessoas tenham a mesma atitude comigo. A diferença é que dificilmente guardo mágoa ou rancor por mais que três dias. Ou seja, quase sempre, a minha raiva passa sem que a pessoa tenha sequer percebido que me magoou. Fazer o quê... rs

Mas voltando às vacas frias. Qual a marca você está deixando nas pessoas ao seu redor ? Uma vez, há muitos anos, eu recebi um email que contava a história de um cavalinho e uma borboleta que eram muito amigos. Mas mesmo sendo amigos, o cavalinho dava patadas todos os dias na borboleta – por querer ou não. E ela sempre continuava ao seu lado porque o amava. Até que um dia, ela não resistiu e morreu. E só aí o cavalinho percebeu o quanto ele havia sido estúpido com ela durante todo aquele tempo e o quanto ele a amava também, mas aí, meu caro, já era tarde demais.

Tenho a impressão que às vezes fazemos questão de sermos como esse cavalo. E pra piorar, percebo que na grande maioria das vezes, a nossa falta de paciência, o nosso cansaço e o nosso esgotamento são sempre descarregados naquelas pessoas que são mais próximas. O extremo oposto do que deveria ser. Penso que devemos parar para analisar se isso não tem se tornado uma constante em nossas vidas porque em determinado momento, acredite, a borboleta vai cansar dos chutes, sucumbir e morrer. Ou então, pode até continuar viva, mas voará para longe. Para sempre.

De repente lembrei-me de várias historinhas lúdicas sobre isso: das marcas do prego na madeira, dos amassados na folha de papel, da sujeira no tecido branco... várias. Mas não vou descrevê-las aqui. Todos sabem e já entenderam a essência do que quero dizer. Por isso, cuide. Cuide de quem está perto, de quem se ama, de quem te ama. Geralmente, as pessoas que mais aturam são as que mais te querem bem. E por isso mesmo, serão aquelas que você mais sentirá falta no dia em que partirem.

Pense nisso e vigie. Vigie como você está tratando aqueles a sua volta. Cuide para que as marcas deixadas por você despertem no outro um sentimento gostoso de saudade, de saudosismo, de felicidade. E nunca o contrário disso. Que assim seja. E que eu consiga também pôr em prática isso que escrevi. Amém.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Regras do Jogo

Pensando eu sobre as coisas deste mundo perfeito...

Não, não tenho a menor pretensão de alcançar a perfeição. Não mesmo. Leio, ouço e observo várias coisas e depois confronto todos os novos conhecimentos adquiridos com os meus próprios conceitos. Seguindo essa linha de raciocínio, que tal um assunto polêmico ?

Hoje me peguei pensando na fidelidade eterna. O que é ser fiel ? O que torna uma pessoa infiel ? O que pode ser considerado traição ? Essas perguntas hoje povoaram a minha cabeça. Essas e outras, na verdade. Claro que não tenho nenhuma resposta pronta para apresentar para vocês. E claro também que eu estou me referindo à fidelidade entre casais.

Eu sempre acreditei na fidelidade eterna. Juro. Eu sempre acreditei que seria possível manter-se fiel a uma única pessoa para todo o sempre. Até que um dia, eu descobri que isso não é uma verdade absoluta. Até que um dia, eu aprendi, na marra, que traições às vezes acontecem. E por mais que doa pra ca*** descobrir isso, aprendi também que ninguém morre por esse motivo. Pelo menos não fisicamente. Talvez um pedaço da alma morra, mas em se tratando de alma e sendo ela imortal, não tenha dúvidas: ela vai se reconstituir.

Dói, eu sei que dói. Mas pensa comigo: fiel até "à morte" não é tempo demais ? Não é uma promessa muito difícil de ser cumprida ? Afinal, você não sabe o dia de amanhã. É absurdo eu falar uma coisa dessas ? É, eu sei que é. E não pense que estou fazendo apologia, não. Longe de mim, até porque eu sou fiel “até a morte”. Pelo menos, até agora eu tenho sido. Desejo continuar assim, mas... sei que ninguém está livre. E essa é a mais pura verdade. Queira você ou não.

Eu acredito sim na fidelidade e no amor eterno. Ainda. De verdade, creio nisso. Até porque sou submissa demais pra me dar a o luxo de envolver-me com outra pessoa que não seja o meu objeto de idolatria. Paradoxo ? Talvez... mas em se tratando de mim, isso é normal. rs

O que eu não admito é a falta de respeito com o outro. E consigo mesmo. A pura satisfação de um ego individualista nunca vai terminar bem. Pense: será que você não está arriscando algo que não tem preço - por ser bom demais - por algo que realmente não tem preço - por ser ruim demais ? Tem traições que simplesmente acontecem e acho, sinceramente, que estas são completamente perdoáveis. Mas tem traições que são procuradas, buscadas com afinco. E para estas, não tem perdão. Pra a segunda classe só uma palavra: caixão.

Claro que aqui estou falando sobre “puladas de cerca” meramente carnais. Não estou falando daqueles casos em que acontece o apaixonar. Mas se acontecer, não force a barra. Sente, pare e pense: para qual lado a balança está pesando mais ? Decida-se e siga o seu rumo, seja ele qual for. O que não se pode fazer é servir a dois senhores. Quando se tem paixão envolvida, ou qualquer outro tipo de sentimento, não dá pra brincar de faz-de-conta. Reflita e tome uma posição. E principalmente: assuma-a.

Porque traições são perdoáveis sim, desde que se jogue limpo - apesar de tudo - e se tenha em mente muito bem quais são as regras do jogo. Para ambas as partes.