sábado, 17 de março de 2012

Sobre Facebook e Schopenhauer

E em tempos de tecnologia, a vida do outro virou o nosso melhor passatempo. Melhor que o chopp com os amigos, melhor que o bate-papo com a família, melhor que ver o sol - já dizia a propaganda do Sundown. E como a nossa vida virou espetáculo alheio, resta-nos então mostrar... felicidade, claro!
Sim, estava eu aqui no vício, em pleno sábado à noite, confesso - e pensei nisso. Aliás, sempre penso. Por que todo mundo é tão bonito, tão feliz, tão inteligente e tão interessante nas redes sociais? Conheço 98% das pessoas do meu Facebook e sei que boa parte não é nem um terço daquilo que se apresenta por ali: não é tão feliz, não é tão culta, não é tão cool e nem é tão bonita quanto demonstra - e viva a fotogenia, inclusive a minha!
Acho que nem os próprios usuários de internet têm noção da exposição a que são submetidos. No mundo das redes sociais, somos avaliados o tempo inteiro. Pelo que postamos ou pelo que não postamos - "Como assim ele ainda não colocou Relacionamento Sério??? Que absurdo! Se eu fosse a namorada dele...". Através da net, sabemos se namoros começaram ou terminaram, se o casal está bem ou não, se o Fulano de tal está pobre ou rico, se a Ciclana está delirando de solidão ou surtando de depressão, se a Beltrana se assumiu finalmente, etc. Não interessa o que cada um escreve: real ou não, TUDO será julgado.
A verdade é que o Face (dentre outros) nos tornou mercadorias. Vendemos imagem, tal qual as propagandas da TV. Mas, dessa vez, o produto vendido somos nós mesmos. E exatamente por isso as pessoas se tornaram tão felizes e perfeitas. A era da informática nos presenteou com uma vida de vitrine, uma vida de comercial de margarina. E alguém aí quer ficar por baixo? Nem pensar... Todo mundo então feliz, apaixonado, vivendo cada segundo e lendo os maiores escritores do mundo...Um, dois, três e já! Postando!
A gente não conhece mais as pessoas, e sim quem elas são apenas virtualmente falando... Quais páginas seguem, quais os interesses, relacionamentos e amigos... O importante é aumentar o número de contatos, mesmo que você não fale um "oi" pessoalmente. O que importa é quantos "curtir" você ganhou no seu post mais recente...
Não vejo grandes problemas em fazer parte deste novo mundo, só creio que tenhamos que ter certos cuidados... Especialmente para não passarmos por ridículos, falsos ou hipócritas. Crianças se passando por adultos, vacas se passando por Sandys, namorados dominados se passando por pegadores e, o pior, portas querendo se passar por intelectuais. Claro que tudo isso é reflexo da sociedade em que vivemos. Onde o EU é o mais importante ser de todo o universo.
Em um mundo de celebrities, todo mundo quer ser uma também. Todo mundo quer ser famoso, seguido, curtido e assinado, por isso, nascem tantos tipos de redes sociais - e justamente fazem tanto sucesso aqui pelas terras Tupiniquins. Tem redes sociais pra todos os tipos e gostos: para responder perguntas, para postar fotos, para desabafar, para dizer os passos durante o dia... Tem de tudo! É muita necessidade de atenção, eu acho. Mas será que tudo isso é saudável?
Já aprendemos que nenhum exagero é salutar. Faz tempo. E sem mencionar, é claro, o tempo perdido diante do computador, alimentando ócio e sentimentos mesquinhos... E tudo isso pra quê? Para passar a mensagem de que "sim, eu sou feliz, bonito e inteligente. Mais do que você.". E precisamos entrar no tema "indiretas-que-a-gente-joga-pela-rede"? Não, ... Pura perda de tempo.
Bom, eu tenho me segurado no mundo virtual. Tenho escrito bem menos sobre minhas intimidades e até mesmo no Face tenho diminuído bastante os meus comentários sórdidos, minhas fotografias e minhas alfinetadas. Às vezes, ainda tenho vontade de xingar umas pessoas, mas me seguro. Outras, tenho vontade de postar coisas fofinhas, que sei que as pessoas vão ler e dizer: "hummm, a Elem está apaixonada... Por quem será dessa vez? " e nem é verdade. Às vezes, eu só achei bonitinho e quis compartilhar. Ponto.
Agora, inventar historinhas do tipo "terminei de ler o meu Dostoievski" ou citar Schopenhauer só pra se passar por intelectual, isso eu não faço. Não crio personagens para parecer mais legal ou para "ficar bem na fita". Mas tem gente que faz. E como. E como se passam por idiotas também...

Bom, acho que é isso...
Bom final de semana para todos!
Fiquem com Deus!