quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sobre crianças

Como os dias andam bonitos... =)

Não sei sobre o que quero falar hoje. Talvez eu devesse falar sobre como é incrivelmente gostoso trabalhar com crianças. Ontem eu estava pensando sobre isso... Como elas nos fazem bem, apesar de serem os seres mais cruéis da face da Terra... =)


Criança não tem medo de nada. Ela não tem medo de carinho, não tem medo de sorrir, não tem medo de chorar, não tem medo de ousar, não tem medo de fazer tudo o que tem vontade. E se ela não faz nada disso, tem alguma coisa errada.

Eu leciono para várias idades: desde o quarto ano (8, 9 anos) até a 3ª série do Ensino Médio (16, 17 anos), por isso, vejo quase todas as fases dessas pessoinhas “futuro da nação”... E vou te dizer... de todas as fases, a que acho mais gostosa é a infância. Tudo bem, eu sei, crianças gritam, têm a voz esganiçada, choram por qualquer coisa e criam caso o tempo todo porque "alguém roubou a borracha”, mas elas são fofas. Eu as adoro e, acredite, descobri isso há muito, muito pouco tempo...

Adoro quando eu chego na escola e elas vêm correndo me abraçar, antes mesmo de entrar na sala. Aliás, quantas vezes eu nem tenho aula com elas, estou indo pro Ensino Médio ou pra outros lugares da escola e elas vêm agarradas pela minha cintura, me contando as últimas novidades ou apenas me enchendo de beijos. Adoro chegar na sala e elas virem todas em cima de mim, ao mesmo tempo, falando sem parar, me deixando zonza e quase me derrubando de tanto abraço misturado com assuntos novos - aliás, de onde elas tiram tanto assunto?? Não sei...

Ontem, eu parei por um momento e fiquei observando-as com um pouco mais de calma. Elas sentem o que a gente sente, é incrível. E elas percebem tudo o que acontece conosco, afinal, nos observam o tempo inteiro. Aprendem o tempo todo com o que veem - coisas boas e ruins - e dizem tudo o que sentem, não importa se você quer ouvir ou não...

No final da aula, as meninas sempre gostam de ficar arrumando os meus cabelos. E os meninos sempre gostam de me contar as histórias mais mirabolantes do mundo. E eu gosto. Gosto dos penteados novos que ganho todos os dias e gosto de ouvi-los, com toda sonoplastia e interpretação dignas de Oscar... Gosto da forma genuína como elas demonstram amor, não com presentes caros ou estardalhaço, mas com o que realmente importa... Gosto de sentir o quanto sou querida e admirada por eles, os meus pequenos, mesmo sendo eu quem sou: a crazy girl. Mas e daí?? Eles ainda não aprenderam a julgar as pessoas apenas pela embalagem...

Descobri que tenho aprendido muito com aquelas pessoinhas em miniatura. Tenho aprendido a ser mais gentil, a ser mais carinhosa, a ser mais sincera, a ser mais otimista, a ser mais solidária... Tenho aprendido com elas que a vida é muito legal e por isso tem que ser vivida sem stress, e que se eu amo alguém de verdade, devo demonstrar isso. E não importa quem é a pessoa e nem muito menos porque eu a amo. Importa que eu a amo e que preciso demonstrar isso! Afinal, para as crianças o tempo é uma coisa tão abstrata que não adianta pensar muito no que vem depois... Aliás, vem algo depois??

Às vezes, fico pensando que um dia elas vão crescer... e fico tentando prever que tipo de adulto elas serão... Se permanecerão com aqueles corações lindos, se continuarão tão dispostas, se ainda saberão respeitar os mais velhos, se ainda demonstrarão o que sentem sem medo, se, se, se... Gostaria que ficassem assim para sempre, do jeitinho que são hoje, mas sei que é impossível. Então, o que peço é que continuem como agora... tão amáveis. Por dentro e por fora. E que, principalmente, continuem ensinando tantas coisas boas às pessoas ao seu redor.

Depois que eu descobri esse tesouro, ficou mais fácil entender porque os pais amam tanto os seus filhos...

E, confesso, enquanto escrevo isso, estou me lembrando de vários rostinhos, vários sorrisos e várias vozinhas finas perguntando: "Elem, hoje a gente tem aula contigo?" Ai, e elas nem sabem como são importantes para mim...

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E a eterna dúvida permanece: na relação professor x aluno, quem aprende mais: aquele que está a frente da turma, com seu guarda-pó, ou aqueles pequeninhos que nos observam com seus olhinhos brilhantes e com as suas mentes pipocando de curiosidade?? Eu já decidi o meu voto... e você??

sábado, 18 de junho de 2011

Confuso, como sempre.

A minha cabeça é um lugar no ermo. Ela não me mostra a realidade. Ela me engana, me ilude, me diz coisas falsas. Ela vive em um mundo irreal, por isso não posso confiar nela. Minha mente é doente. Eu vejo e ouço coisas que não acontecem. Eu não vejo e não ouço coisas que acontecem.


Na minha cabeça, eu quero você. Na verdade, não é querer. Eu não quero você, eu gosto de você. O verbo é diferente. Confuso, eu sei. Eu gosto de você. E acredite, não é nada fácil admitir isso. Logo você? Com tanta gente no mundo... E eu lembro que até bem pouco tempo atrás, eu nem ligava pra sua existência. Mas bastou você me mostrar o quanto você não me quer pra eu ficar assim, desse jeito... pensando em você antes de dormir, sonhando com você enquanto durmo, pensando em você ao acordar, pensando em você durante o trabalho, sonhando com você acordada e, simultaneamente, rezando a Deus, pedindo que Ele conserte logo as coisas.

Eu juro, eu tentei. Eu ri, eu sorri, eu falei. Eu tentei agir normalmente perto de você. Até 1/4 do caminho, eu me comportei. Mas depois disso, eu não consegui mais. Eu senti suas mãos. Eu olhei nos seus olhos. Eu vi o seu sorriso. Eu escutei a sua voz. E eu comprovei mais uma vez o quanto você não me quer. E, sinceramente, estou triste por isso. Triste porque alguém que eu não quero também não me quer. Afinal, o que desejo eu então? Não sei. Quero sua atenção, acho. Sua companhia. Suas mãos. Seu olhar. Seu sorriso. Sua voz. Eu não quero você, eu quero aquilo que eu ainda não tenho... acho que é isso. Eu quero não gostar de você. Ou então, quero que você me queira... de novo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Consciência

Começou durante a noite. Era uma vozinha que insistia em me apontar coisas que eu não queria ver, ouvir ou lembrar. Coisas que eu havia feito e não deveria ter feito. A princípio, eu pensei que fosse passar rápido e tentei voltar a dormir. Mas a voz continuava lá, falando... ou melhor, sussurando em meu ouvido...
Amanheceu. Levantei, tomei meu banho, me arrumei e fui trabalhar. Percebi que com o passar das horas, a tal voz ficava cada vez mais forte, mais alta. Quando o sol estava a pino, no meio do céu, ela já gritava e parecia mostrar a todos os meus erros e defeitos. E em um ataque, ela me disse o seu nome: consciência.
Pensei várias vezes se eu deveria ignorar aquela voz acusadora e verdadeira ou se eu cedia aos seus desejos e tentava consertar os meus erros - se é que isso seria possível. Ainda pensava nisso, quando algo me chamou a atenção.
De repente, passou por mim alguém. Alguém cuja consciência também berrava, mas ao contrário de mim, o dono parecia não ouvir. Ou se ouvia, parecia não ligar. Ela gritava e ele sorria. Ela esperneava e ele flertava. Eu ouvia o que ela berrava, acho que todos ao redor também ouviam - assim como também deviam ouvir a minha - mas, o corpo responsável por aquela voz igualmente acusadora e verdadeira parecia não ligar. Pensei: como se faz isso? Em qual momento da vida a gente deixa de ter consciência - ou deixa de ouvi-la? Ou será que a pergunta seria: depois de quantos erros, ela para de encher o saco? Não sei, não consegui as respostas.
Sei que é noite, e sei também que receberei novamente a visita indesejada dela: a voz. E sei que ela vai me contar tudo de novo, todas as histórias que eu já sei e prefiro esquecer... mas não, eu sei, ela não deixará que assim o seja...

Como se faz mesmo para ser tornar surdo à ela como tantos por aí ??


domingo, 12 de junho de 2011

"Eu sei, mas não devia."

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.", já dizia a minha amada Marina Colassanti em um texto brilhante chamado "Eu sei, mas não devia". Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia... A gente se acostuma a ser humilhada, a ser rebaixada, a ser diminuída. A gente se acostuma a não ter uma relação saudável, a ser deixada de lado, a ser a segunda opção - ou última. A gente se acostuma a dar tudo de si e não receber nada em troca. A gente se acostuma a não ser amada, a não ser desejada, a ser simplesmente usada. A gente se acostuma, mas não devia.

Fico pensando nisso... nas coisas a que nos acostumamos. E não sei ao certo por que as aceitamos. Por que aceitamos permanecer em um relacionamento sem futuro? Por que aceitamos que nos magoem ? Por que aceitamos que o errado seja visto como certo? Por que aceitamos que, em meio a tanta dor, tenhamos que fingir felicidade? Não sei...

Sobre o que eu estou falando, afinal de contas? Estou falando, dentre outras coisas, sobre aquela amiga que tem um namorado que só a magoa, mas que ela não deixa. Estou falando sobre aquela amiga que não tem coragem de dar um basta naquele relacionamento sem futuro. Estou falando sobre aquela amiga que aceita que o seu namorado saia com outras meninas, porque, para ele, ele não é namorado de verdade, oficial. Estou falando sobre permitir que as pessoas entrem nas nossas vidas e permaneçam de uma forma não saudável. Permaneçam e nos façam mal. Nós permitimos, nós acostumamos e nós aceitamos. E, o pior, nós achamos normal. Ou passamos achar.

Achamos normal a mágoa, achamos normal o descuido, achamos normal o desrespeito. Achamos normal não receber o valor que merecemos... e achamos isso, talvez, porque no fundo, achamos que não merecemos mesmo. Aceitamos receber toda a podridão do outro, porque nos vemos, mesmo que inconscientemente, como lixeiras e como seres inferiores àqueles que nos machucam. E não somos. Mas é difícil perceber e aceitar isso... Afinal, estamos tão acostumadas a isso, que não percebemos mais o que seria o certo...

Começamos a usar vendas que nos impedem de ver a realidade. A gente mascara a dor como se desta forma pudéssemos passar a suportá-la. E de fato funciona. A gente se esconde por trás de desculpas do tipo "eu não me importo", "ele não faz por mal" ou "é o jeito dele" para fingir que é certo o que não é. Usamos as desculpas para tentarmos NOS convencer de que aquela dor é normal. Porém, no fundo, lá no fundo, a gente sabe que não é. Todo mundo sabe quando está sendo usado, todo mundo sabe quando uma palavra fere, todo mundo sabe onde o coração dói nas horas de solidão... Todo mundo sabe, mas ninguém, ou quase ninguém, tem peito pra enfrentar essa dor e dizer chega, basta.

Dar um basta significa sair da zona de conforto. Significa partir rumo ao desconhecido. Significa trocar a segurança do concreto pela insegurança do que há por vir. Mas e daí? Dar um basta também significar se amar mais, se valorizar mais, se descobrir mais. Significa se reconhecer como alguém que merece ser amada de verdade, ser valorizada, ser respeitada. E por que não fazemos isso então? Porque mudar, desacostumar dói. Dar um basta significa passar um tempo de luto, passar um tempo de carência, passar um tempo de encontro consigo mesma... É difícil aguentar a dor sozinha quando se está acostumada à dor com o outro.

A gente se acostuma, mas não devia. A gente não devia se acostumar com o que nos maltrata, com o que nos faz infeliz, com o que nos machuca. A gente devia sim, se acostumar com a felicidade, com o direito de ser feliz incondicionalmente e acima de tudo. Com isso sim... Mas o que fazer quando não vemos que aquilo não nos faz bem? O que fazer quando achamos que o errado é o certo na nossa vida? Pare. Pense. Pese. Meça. Reveja atitudes, lágrimas e sorrisos. E analise: o que você quer e espera pra sua vida? Vale realmente a pena continuar ? Isso, só você pode decidir, mas seja sincera... E se for preciso mudar, mude. E desacostume-se já com a infelicidade - ou será que devo chamar de "falsa felicidade". A partir de agora.

"A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. (...) A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."