quinta-feira, 1 de novembro de 2012

E enquanto isso...

Se eu fosse uma adolescente, lhe entregaria uma carta cheia dos corações e estrelinhas, daquelas melosas e tolas, onde, por meio das letrinhas tortas, lhe contaria sobre o meu amor. E qualquer adulto que lesse, diria: "Amor? Que amor? Adolescentes ainda não sabem o que é isso!".
Mas eu não sou mais uma menininha no auge dos 15 anos, que jura amor eterno a um outro menininho de mesma idade. Não, definitivamente não sou. Sou uma velha mocinha que sofre como uma garotinha, que os adultos olham e dizem: "Amor? Que amor? Essa menina ainda não sabe o que é isso!". Porém, que sofre do mesmo jeito e também jura amor eterno com letrinhas tortas ao menininho que não tem a mesma idade.
Mas o tal adolescente, destinatário da minha paixão, agiria como todos os menininhos de 15 anos: ele leria a carta e ignoraria o meu sentimento. Afinal, como todos os meninos dessa idade, ele tem outras preocupações, que não a minha carta de coraçõezinhos e estrelinhas... 
Depois de ler, ele a jogaria em uma gaveta qualquer, junto com outras cartinhas de outras menininhas. E em meio a bilhetes usados de futebol, revistas em quadrinhos velhas, fones de ouvidos estragados, peças perdidas/quebrados de um brinquedo, canetas e pilhas que não mais funcionam, ela se tornaria tão sem valor quanto todas essas coisas...E o meu sentimento ficaria por ali, perdido, escondido, esquecido, ignorado. Mas só ali na gaveta do menininho bobo. Do menininho que ainda não sabe o que é amar. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu, a Raposa e o Príncipe

E eu continuo achando que o problema maior de todas as separações são os campos de trigo que ficam espalhados pelo caminho. E eu confesso, e nem precisaria, que tenho dificuldades para continuar vivendo a minha vidinha quando há em volta de mim tanto trigo espalhado. Porque sim, não importa quanto tempo dure uma relação, os campos de trigo sempre se fazem presentes. 

Saint-Exupéry contou-nos uma história há muito tempo. Um principezinho de um planeta distante veio à Terra e aqui conheceu a Raposa, que lhe pediu que a cativasse, pois se assim o fizesse, tudo para ela teria  sentido, pois teria sido cativada. O problema é quando nos deixamos cativar, corremos o risco de chorar, já dizia ele. Um dia, quando o principezinho vai embora, ele deixa vários trigos, que são as recordações de tudo o que foi vivido. O problema é que eu, diferentemente da Raposa, não sei lidar com isso. Eu não sei recolher, ignorar ou esquecer os campos que ficam a minha volta quando alguém se vai.

Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa nenhuma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

"E eu amarei o barulho do vento no trigo...". Não, eu não mais amo o barulho do vento no trigo.  Eu não sei lidar com o trigo que ficou espalhado em meu quarto, em minha casa. Antes, era simplesmente o meu quarto, o local onde eu descansava e dormia. Não é mais. Hoje, o quarto tornou-se um grande campo. E eu não amo o barulho do vento no trigo. Pelo contrário, eu odeio olhar a varanda vazia, o cinzeiro sem o seu cigarro, a cama sem o seu corpo e a toalha azul estendida sem uso. Odeio também a parede fria onde eu adorava dormir encostada, porque ela também tornou-se um trigo para mim... Você fez isso. Você transformou tudo o que havia aqui em uma única sensação de "ele não vem mais". 


- Por favor... cativa-me! disse ela.- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa nenhuma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...



Não, eu não pedi que me cativasse. E nem você pediu, eu sei. Mas, primeiro, você me olhou com canto de olho. Depois, eu te olhei também. E então, a cada dia você se sentou mais perto, mais perto, mais perto, até que, puff!, lá estávamos nós... sentadinhos à mesa, juntos, comendo, conversando e rindo como qualquer casal que ri dos acontecimentos do dia e troca informações bestas e banais sobre tudo. Casal este que nem chegamos a ser de verdade. Sim, você me cativou. VOCÊ me cativou. Tola que fui. Você me cativou... E eu passei a conhecê-lo bem. Mais até do que eu precisava ou esperava. Mas depois dessa etapa, o principezinho se vai. O principezinho e você. E você se foi.

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada.
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Sim, a culpa é minha! Eu permiti você aqui. EU permiti. E agora eu não quero a cor do trigo apenas. Eu não quero a toalha sem uso, o cinzeiro vazio, a cadeira abandonada na varanda, o banheiro desocupado e cama espaçosa. Eu não quero campos de trigo e nem trigos e nem espigas e nem nada que apenas me lembre. Eu quero você. Aqui. Presente. Nada de outros planetas, outros campos, outras plantações. Quero você aqui. Para rir comigo, para falar abobrinhas, para atender a porta, para dar oi pro porteiro e principalmente para envergonhar os vizinhos com o barulho que a gente faz... Sim, eu quero você e não apenas as lembranças de você. As lembranças doem, sabia? 

O principezinho se foi. Voltou para o seu pequeno asteróide... Você também se foi. A diferença na minha história é que você não se lembra mais do que ficou aqui. Lá no livro, a lembrança permaneceu para sempre no coração do Pequeno Príncipe; aqui, não. E eu estou aqui, deitada na mesma cama, escrevendo esse texto dramático e pensando em qual constelação você brilha agora... Sinto tanto a sua falta, e eu só queria que você soubesse. E que (eu/você) pudesse fazer algo. 

domingo, 14 de outubro de 2012

De novo.

E ele tinha todas as características que eu sabia que me dariam problemas no futuro. Bonito, falava baixo, discreto... sim, ele me seduziu. E desde o começo eu sabia: esse cara vai me enlouquecer. Eu sempre soube disso, não posso dizer que não... eu sabia. Até tentei não deixar, tentei controlar as emoções e manter os dois pés firmes no chão, mas quando ele me disse "não quero mais", eu me dei conta do quanto eu estava ferrada. De novo.
Na verdade, ele nunca me disse "não quero mais", mas alguma coisa aconteceu. Alguma coisa que eu não  sei explicar o quê. Mas eu que tentei terrivelmente não me apaixonar de novo e por ele, logo por ele??, chorei. Um dia, no primeiro dia que eu percebi que algo estava estranho, sentei na minha cama, abracei as pernas e chorei. Chorei como uma criança que se machuca e não tem pra quem contar e o pior, não sabe o que fazer com a dor que está sentindo... Chorei ali, sentadinha, de perninhas grudadas ao corpo e pedi a Deus que não o tirasse de mim, porque mesmo sabendo que eu corria grandes riscos com ele, meus olhinhos brilhavam quando eu pensava nele ou na gente... E eu estava feliz. Muito feliz, apesar de tudo. 
E foi ele quem me fez escrever novamente. Apaixonada, como sempre, sofrendo, como sempre, queria - mais uma vez - dizer pra ele que não é  justo ele me deixar assim, que não é justo ele permitir que eu sinta tanta falta dele enquanto ele simplesmente me ignora. Mais uma vez. Não pode ser correto ele permitir que eu sinta tanta saudade dele quando ele poderia simplesmente vir aqui, me abraçar e dizer: passou. E fazer realmente tudo passar. Pra sempre. Ou até a próxima semana. 
E eu queria olhar pra ele e dizer: eu gosto de você. Eu gosto DE VERDADE de você. Mas como? Eu não sou segura o suficiente para isso... E aí, vou assim, sorrindo e fazendo outras coisas que só me fazem pensar cada vez mais nele. E ele? Está lá. Como sempre esteve... Bonito, falando baixo, discreto e seduzindo... 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Inveterada

Eu sei, eu deveria escrever mais, pensar menos, viver mais, sofrer menos. Mas que posso eu fazer se tenho gosto pelo sofrimento? Gosto das frases tristes, das histórias sofridas, dos romances não concretizados, dos amores amargurados e enterrados e renascidos e ressurgidos. Que posso eu fazer se, como os antigos poetas, acho linda a dor de amor?

Deveria, eu sei, celebrar todos os dias as alegrias e a jovialidade do amor. Ok, acho bonito tudo isso de amar e viver num eterno mar de rosas... bonito sim, mas não atrativo. Gosto das histórias, dos dramas - mesmo que eu negue até a morte ser dramática - , dos rolos e enrolos do amor, se me permite a língua portuguesa um possível neologismo.

Gosto dos textos tristes e apaixonados e rasgados e sofridos e ensaguentados. Neles eu me encontro.

Admito, sou uma romântica inveterada. E no sentido original da palavra.


sábado, 17 de março de 2012

Sobre Facebook e Schopenhauer

E em tempos de tecnologia, a vida do outro virou o nosso melhor passatempo. Melhor que o chopp com os amigos, melhor que o bate-papo com a família, melhor que ver o sol - já dizia a propaganda do Sundown. E como a nossa vida virou espetáculo alheio, resta-nos então mostrar... felicidade, claro!
Sim, estava eu aqui no vício, em pleno sábado à noite, confesso - e pensei nisso. Aliás, sempre penso. Por que todo mundo é tão bonito, tão feliz, tão inteligente e tão interessante nas redes sociais? Conheço 98% das pessoas do meu Facebook e sei que boa parte não é nem um terço daquilo que se apresenta por ali: não é tão feliz, não é tão culta, não é tão cool e nem é tão bonita quanto demonstra - e viva a fotogenia, inclusive a minha!
Acho que nem os próprios usuários de internet têm noção da exposição a que são submetidos. No mundo das redes sociais, somos avaliados o tempo inteiro. Pelo que postamos ou pelo que não postamos - "Como assim ele ainda não colocou Relacionamento Sério??? Que absurdo! Se eu fosse a namorada dele...". Através da net, sabemos se namoros começaram ou terminaram, se o casal está bem ou não, se o Fulano de tal está pobre ou rico, se a Ciclana está delirando de solidão ou surtando de depressão, se a Beltrana se assumiu finalmente, etc. Não interessa o que cada um escreve: real ou não, TUDO será julgado.
A verdade é que o Face (dentre outros) nos tornou mercadorias. Vendemos imagem, tal qual as propagandas da TV. Mas, dessa vez, o produto vendido somos nós mesmos. E exatamente por isso as pessoas se tornaram tão felizes e perfeitas. A era da informática nos presenteou com uma vida de vitrine, uma vida de comercial de margarina. E alguém aí quer ficar por baixo? Nem pensar... Todo mundo então feliz, apaixonado, vivendo cada segundo e lendo os maiores escritores do mundo...Um, dois, três e já! Postando!
A gente não conhece mais as pessoas, e sim quem elas são apenas virtualmente falando... Quais páginas seguem, quais os interesses, relacionamentos e amigos... O importante é aumentar o número de contatos, mesmo que você não fale um "oi" pessoalmente. O que importa é quantos "curtir" você ganhou no seu post mais recente...
Não vejo grandes problemas em fazer parte deste novo mundo, só creio que tenhamos que ter certos cuidados... Especialmente para não passarmos por ridículos, falsos ou hipócritas. Crianças se passando por adultos, vacas se passando por Sandys, namorados dominados se passando por pegadores e, o pior, portas querendo se passar por intelectuais. Claro que tudo isso é reflexo da sociedade em que vivemos. Onde o EU é o mais importante ser de todo o universo.
Em um mundo de celebrities, todo mundo quer ser uma também. Todo mundo quer ser famoso, seguido, curtido e assinado, por isso, nascem tantos tipos de redes sociais - e justamente fazem tanto sucesso aqui pelas terras Tupiniquins. Tem redes sociais pra todos os tipos e gostos: para responder perguntas, para postar fotos, para desabafar, para dizer os passos durante o dia... Tem de tudo! É muita necessidade de atenção, eu acho. Mas será que tudo isso é saudável?
Já aprendemos que nenhum exagero é salutar. Faz tempo. E sem mencionar, é claro, o tempo perdido diante do computador, alimentando ócio e sentimentos mesquinhos... E tudo isso pra quê? Para passar a mensagem de que "sim, eu sou feliz, bonito e inteligente. Mais do que você.". E precisamos entrar no tema "indiretas-que-a-gente-joga-pela-rede"? Não, ... Pura perda de tempo.
Bom, eu tenho me segurado no mundo virtual. Tenho escrito bem menos sobre minhas intimidades e até mesmo no Face tenho diminuído bastante os meus comentários sórdidos, minhas fotografias e minhas alfinetadas. Às vezes, ainda tenho vontade de xingar umas pessoas, mas me seguro. Outras, tenho vontade de postar coisas fofinhas, que sei que as pessoas vão ler e dizer: "hummm, a Elem está apaixonada... Por quem será dessa vez? " e nem é verdade. Às vezes, eu só achei bonitinho e quis compartilhar. Ponto.
Agora, inventar historinhas do tipo "terminei de ler o meu Dostoievski" ou citar Schopenhauer só pra se passar por intelectual, isso eu não faço. Não crio personagens para parecer mais legal ou para "ficar bem na fita". Mas tem gente que faz. E como. E como se passam por idiotas também...

Bom, acho que é isso...
Bom final de semana para todos!
Fiquem com Deus!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Insônia

(...)

E aí ela me diz que tem dificuldades para esquecer, para deixar as coisas do passado no passado. E eu fico pensando em quantas vezes eu desejei que as coisas do passado realmente ficassem por lá. Mas elas não ficam. Elas me assombram e me chamam e me arrastam pra ele novamente. E eu vou. Eu vou porque lá é sempre melhor, lá é sempre mais confortável do que o real, o atual, o agora.

E ela me diz ainda que se realmente tudo fosse perfeito como eu penso, eu ainda estaria lá ou ele ainda estaria aqui, sei lá qual a ordem correta, mas ainda seríamos um, mas ela não entende o que acontece. Ela não entende e nem conhece o que se passa... E queira Deus que ela nunca precise conhecer.

E eu penso e peno e reflito e choro e grito e esperneio. E ele não está. E ele continua não estando. E eu penso novamente em ligar, em chamar, em dizer, em perguntar, em questionar o porquê de ele não estar aqui, de não estarmos aqui. Por que ele é o amor da minha vida??? Porque ele É o amor da minha vida. Ou não é? Ele é, eu sei. Eu sei disso. E ela me diz agora que se ele realmente o fosse, eu não sofreria. Mas ela não sabe que eu sou romântica, dramática e canceriana. E que eu quero pensar que ele também pensa, seja lá em qual cama estiver, que eu também sou o amor da vida dele e o quanto ele foi burro por ter me deixado partir.

E ela me diz que não é, que é ilusão, que é utopia, q é idiotice, tolice, babaquice ou qualquer outra coisa que termine com ice. E eu ouço e penso mais um milhão de vezes em como dói gostar de alguém pra sempre, pra sempre, pra sempre. E dói eternamente. E eu tenho medo disso nunca parar, curar, ter fim.

(...)

E eu penso em como vivo uma vida paralela, abrindo portas e janelas e paredes e coisas que eu nem quero de verdade. E penso ainda em por que faço, tão instintivamente, se eu realmente não quero nada disso, se eu não quero nenhuma delas, mas só a primeira de todas as portas, aquela que me fez abrir todas as outras - como se alguma vez na vida eu tivesse tido algum real interesse em abrir alguma coisa que não fosse a minha alma para ele. Quero justamente a única porta que está fechada. E aí, elas, as portas, janelas e paredes, vão ficando assim, abertas, sem graça, desbotadas e deslocadas enquanto eu simplesmente caminho por elas, fingindo interesse e brincando por algumas semanas até que aquilo se torne sufocantemente falso demais e estúpido demais e sem graça demais. Então, eu volto pro mesmo lugar quente de sempre e de antes e choro e grito e esperneio. E penso em te ligar, em te chamar, em te perguntar, em te dizer mais uma vez: me tira dessa droga de vida, me salva, me resgata, me acorda desse sonho terrível que é viver sem você. Vem e foge comigo, pelo amor de Deus.