sábado, 2 de janeiro de 2010

Sobre o perdão

O tema surgiu não apenas porque é início de um novo ano, mas principalmente porque o ato de perdoar é algo muito forte em mim. Confesso que muitas vezes nem gostaria que ele fosse tão latente assim. O que quero dizer é que tenho dificuldades para manter na mente aquilo que o outro me fez de errado. Geralmente, as ações alheias apagam-se de tal forma que parece que elas nunca existiram. E às vezes manter o rancor é uma forma de proteção orgânica para que não aconteça novamente, e justamente por isso muitas vezes me sinto meio desprovida desta defesa natural.

A questão é que nunca saberemos se acontecerá novamente ou não, nem as coisas boas e nem as coisas ruins que nos fazem. É o eterno clichê: a vida é uma caixinha de surpresas. Nós não podemos prever se aquele amigo vai nos magoar algum dia, se o nosso companheiro vai nos trair ou se nosso irmão vai nos apunhalar pelas costas. Diz o ditado que apenas os amigos nos ferem realmente, até porque aos inimigos não damos esta chance, uma vez que vivemos na constante espera de que eles atentem contra nós. Sim, acreditem, apenas aqueles a quem amamos são capazes de nos ferir. E eu confesso ter muito medo desta afirmação.

Quando alguém me magoa ou me desaponta, fico triste. Mas não pelo ato cometido por esse alguém. Geralmente o que mais me dói, além da traição, é pensar no quanto eu fui responsável, é pensar na minha parcela de culpa. Porque sim, nós sempre temos uma parcela de culpa, afinal, as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos que elas façam... Fico mal não pelo ato dela, repito, mas pelo meu ato. Pelo meu ato de permiti-la perto de mim, pelo meu ato de amá-la e principalmente pelo meu ato de perdoá-la. Existem algumas pessoas em minha vida que eu não gostaria de ter perdoado, mas perdoei. Mais de uma vez até. Nunca quis carregar comigo o peso do ódio, do rancor. Aprendi há muito tempo que a mágoa causa câncer, físico e emocional... e eu nunca quis isso para mim... Por isso, mesmo nos casos em que mais de uma vez aceitei as desculpas, não me arrependo de assim tê-lo feito.

Todas as vezes que eu proferi a frase “eu te desculpo”, houve sinceridade. Nunca disse isso da boca pra fora, nunca disse se realmente não viesse do meu coração. Lembro-me de apenas um caso em que disse não ser capaz de desculpar “naquele momento”, mas que o faria assim que fosse possível, como foi logo em seguida. Muitas vezes, minhas amigas esforçavam-se para me lembrar das dores causadas na esperança que eu dissesse “eu não perdôo você. Suma da minha frente.” Mas isso nunca aconteceu. Talvez elas pensassem que já que sou tola e desprovida, elas poderiam ser a minha proteção...

Em contrapartida, existem na minha vida pessoas que nunca permitiram a minha remissão, que simplesmente me crucificaram e consolidaram o seu julgamento sobre mim, sem nem ao menos saber se era verdade ou não o que lhes fora dito. Paciência. Sei que não sou perfeita e em trinta anos de vida, com certeza, devo ter magoado algumas pessoas, mas nunca, nunca mesmo, foi intencional. Entretanto, esta é a parte que as pessoas não acreditam.

Fico pensando no quanto pesa carregar no peito, nos ombros, no coração e na alma um peso morto... Será que realmente você deseja levar esse ódio até o fim da sua vida? Acho que não vale à pena. E não basta dizer “eu te perdôo” é preciso sentir... é preciso esquecer aquilo que lhe foi feito... Já dizia o Mestre, perdoar é oferecer a outra face, é dar ao outro uma segunda, terceira, quarta chance... Mas no mundo de hoje, isso se chama “burrice”... O mundo hoje não está preparado para aqueles que aceitam as falhas humanas e acreditam em uma mudança de postura. Burrice ou inteligência, chamem como quiser, o que sei é que não é correto tomar todos os dias um gole de veneno. É preciso encarar a dor, reerguer-se e tocar a vida.

Dor sempre haverá. A diferença está em como lidamos com ela. Permitir que ela continue existindo em nosso íntimo é a maneira mais eficaz de morrer um pouquinho todos os dias. A vida é bela e curta demais, não percam tempo com a mesquinharia alheia... eu, você, nós não precisamos disso, aliás, nós somos muito mais que isso... Reflitam.

Desejo a todos um excelente final de semana e um 2010 repleto de realizações.
Um grande beijo e até a próxima.

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