domingo, 17 de maio de 2015

Texto para maiores II

Não sei.
Gostaria de saber e/ou de entender qual o verdadeiro mistério que envolve as relações dos seres humanos. Às vezes penso que seria mais fácil ser um cachorro ou qualquer outro animal "irracional"...

Antes eu pensava que todo mundo queria alguém. Que todo mundo gostaria de ter alguém para dividir a vida e tals. Mas hoje em dia me pergunto se realmente todo mundo quer isso... Em uma era de tantas relações meteóricas, questiono-me se ainda cabe querer alguém para vida inteira. Ou pelo menos, para parte dela.

Tenho vontade de abrir o verbo e dizer: "ei, é o seguinte, procuro alguém para estar comigo. Alguém para quem eu possa ligar e mandar msgs a hora que eu quiser e perguntar coisas idiotas que eu gosto de perguntar, coisas do tipo: "o que você almoçou?", "onde você está?", qual filme você vai ver hoje à noite?", "você está com ou sem barba hoje?", "qual camiseta você está usando?". Não pergunto essas coisas porque quero controlar ninguém, mas simplesmente curiosidade, por querer saber da vida do outro, uma forma de partilha, entende? Mas atualmente isso não tem sido muito bem interpretado. No mundo de hoje, todo mundo quer ser livre. Deus me livre ter que ficar respondendo perguntas para alguém.... Mundo estranho esse... Há tanta intimidade e ao mesmo tempo intimidade nenhuma.... Talvez o excesso de uma falsa intimidade tenha justamente acabado com a verdadeira. Difícil demais isso para a minha cabeça.

Transamos com desconhecidos - que frase de efeito. Aí você vai dizer: "que absurdo, eu não transo com desconhecidos". Sim, você transa. Nos enganamos fingindo que conhecemos, mas não. Conhecemos há uma, duas semanas. Um mês e olhe lá. Pronto, já  é tempo suficiente. Eu me engano às vezes assim também. Mas como não agir desta maneira quando o mundo corrido e desesperado de hoje nos leva para isso?  Conhecemos, trocamos whats, face, vemos fotos da vida inteira da pessoa, nos achamos íntimos e pah, lá estamos nós em plena intimidade com alguém com o qual não temos a me-nor intimidade. Lidar com isso seria fácil, se no dia seguinte não esperássemos por algo que não existe: uma relação. Não, não há uma relação, um relacionamento, um contrato dizendo que agora  podemos fazer as nossas perguntas tolas ou mandar msg apenas de oi como se estivéssemos juntos há tempos. Não, não estamos. E isso é confuso porque de um lado você tem o mundo inteiro dizendo: "vai, você é livre para fazer o que quiser com o seu corpo". Mas de outro, você tem a sua consciência dizendo: "espere, valorize-se". E aí, no auge da coisa, você segue seus instintos, mas no dia seguinte, pergunta-se se a sua voz interior não tinha razão...

Sabemos, ou pensamos que sabemos, tudo sobre a vida do outro: onde trabalha, quais festas frequenta, como é a família, qual o seu melhor ângulo para fotos. E mais: sabemos também se ele tem e onde ele tem pelos ou qual tipo de cueca/calcinha usa. Sabemos até a posição sexual que ele/ela  mais gosta! O problema é que sobre a alma sabemos nada ou quase nada. Sabemos do corpo, do cheiro, da barriguinha e da pele. Não sabemos sobre os pensamentos reais, sobre os desejos, sobre o interior, sobre as angústias/alegrias verdadeiras. Ah, como eu sinto falta de saber sobre o outro inteiro e não apenas sobre a sua pele, pelos e cicatrizes...

Sinto falta da época em que ir para a cama com alguém significava que havia uma cumplicidade entre corpos e almas. Sinto falta de fazer amor e não apenas sexo. Sinto falta de receber carinhos e abraços de manhã que não significassem apenas "mais sexo para aproveitar o tesão de mijo". Sinto falta de acordar e ficar coladinho simplesmente porque é gostoso ficar abraçadinho com quem se gosta. Resumindo: sinto falta de estar com alguém que eu goste de verdade. Mas como é difícil encontrar alguém para gostar de verdade hoje em dia.

Porque gostar de alguém significa não apenas saber o que está escrito no Facebook. Significa saber das loucuras, dos  devaneios, das paixões. Gostar significa, dizia alguém, expor a alma, deixá-la nua. Quantas pessoas você conhece que estão dispostas a isso? E eu, sinceramente, não estou a fim de ficar nua, poeticamente falando inclusive, diante de alguém que não queira o mesmo que eu. Infelizmente, no mundo de hoje, tirar a roupa do corpo tem sido muito mais fácil do que tirar a roupa da alma. 

Antes, eu pensava que todos queriam alguém, mas agora receio que não mais. Talvez, as pessoas ainda não saibam - ou não saibam mais - que completar a vida é bem mais gostoso que completar a noite. Que é muito mais gostoso aproveitar um dia de cada vez do que a vida inteira em duas, três horas. Que mostrar a alma seja mais complicado, mas muito mais prazeroso do que mostrar o corpo. Talvez um dia eu encontre alguém assim. Acho que eu deveria seguir sempre a minha voz interior: valorize-se, valorize-se...